terça-feira, 1 de abril de 2008

A maratona

Contar toda a maratona burocrática pela qual eu tive que passar a partir do dia em que a Fabíola voltou do consultório do oncologista ia preencher vários blogs com inúmeras chatices. Ia ser pior que ler Diário Oficial. Não vou fazer isso com vocês. :) Vou escolher o dia mais emblemático da maratona pra dar uma amostra daquilo pelo que a família de um paciente oncológico tem que passar -- nem que seja pra depois descobrir que o paciente, graças a Deus, não tem câncer.



O primeiro exame marcado foi a biópsia do nódulo. Foi fácil marcá-lo no laboratório de escolha da Fá, mas ela tinha que conseguir uma senha para a realização do exame com o convênio. A palavra "convênio", aliás, tem me dado urticária. Nesse caso específico ligamos para o convênio logo após a Fá ter chegado em casa, ou seja, numa véspera de feriado. Fui informada de que o departamento de senhas só funcionava de segunda a sexta, das 8h00 às 17h00, mas que como o dia seguinte era feriado eles não funcionariam. Ou seja, o exame marcado para o sábado teve de ser adiado para segunda-feira porque os pacientes que têm de fazer exames urgentes devem ter o cuidado de só ficar doentes em dias úteis até as 17h00. Remarquei o exame para segunda à tarde e expliquei a situação para a atendente do laboratório e ela perguntou: "A que horas abre o departamento de senhas, às 8h00? Então ligue pra eles na segunda-feira às 8h01." Ela com certeza sabia do que estava falando.

Foi o que fiz. Ligo de manhã para o laboratório, assim que acordei, para dizer que já havia mandado todo o material necessário e que aguardava a senha para realização do exame ainda naquele dia, pois o médico pretendia operar a paciente ainda naquele sábado. Dizem que ainda não haviam analisado o pedido, que era pra eu ligar mais tarde. Me apronto e vou fazer o almoço da Fá, pois ela precisava de alimentação especial naquele dia por conta do exame. Legumes e cebola já picados. Ligo de novo. Disseram que entrariam em contato comigo até meio-dia. Arroz cozinhando. Às 12h30 ligo de novo porque obviamente não me retornaram. Começo a engrossar, assim como o caldo dos legumes. Sem senha ainda. Mesa posta. O telefone tocou -- ainda bem! Era o laboratório em que ela tinha outro exame marcado para o dia seguinte dizendo que a máquina de ressonância magnética havia quebrado sem previsão de conserto. Desespero. Ligo para outros laboratórios, não cobrem aquele plano. A Fá chegou. Ligo de novo pro convênio, digo que tenho que sair em menos de uma hora pro laboratório, é caso de urgência, blá blá blá, pra me dizerem que para a realização daquele exame não era necessário ter senha. "Se a gente soubesse teria feito o exame no sábado e não teria remarcado pra hoje!" "Me desculpe, senhora." Como almoço frio. Vamos pro laboratório, porque a Fá precisa de um acompanhante. Levo o laptop pra trabalhar enquanto ela faz o exame.

Chegando ao laboratório pedem a senha. Eu sabia! Aí a briga passa para a atendente do laboratório com o povo do convênio. Já não é mais comigo. A atendente é guerreira, liga umas dez vezes. Enquanto isso ligo pro doutor Arnaldo pra explicar a situação da máquina quebrada pra fazer o outro exame. "Ele não pode atender." "Por favor pede pra ele me ligar com urgência." Abro o laptop e começo a digitar uma carta de reclamação para o convênio. O exame atrasa, óbvio, porque a bendita senha demora a sair. Fico na sala de espera digitando a carta. A Fá sai com bolsa de gelo no seio porque o exame foi dolorido, super dolorido. Ligo para a chefe dela pra avisar que ela não pode trabalhar por dois dias: determinação dos médicos por causa do exame.

Assim que chego em casa o dr. Arnaldo retorna e me pede pra ver em que laboratórios o convênio cobre o exame de ressonância. Ligo pro convênio. Ligo pro dr. Arnaldo com a lista. Hora do jantar. Ele recomenda os laboratórios tal e tal. Um deles não tem horário para aquela semana. Ligo pra outro e mais outro. Consigo um para a quarta-feira. Vou preparar um ovo pra Fá e esquentar o arroz. Perdi a missa. Janto. Vou trabalhar. Vou para a cama às 2h00. Acho que já estava dormindo em pé antes disso...

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