quarta-feira, 23 de abril de 2008

... e dias

Os oito dias em que a Fá ficou no hospital também foram repletos de emoções. A começar pelas visitas. No dia seguinte à cirurgia, um domingo, houve aquilo que meu amigo Edu chamou de "o beija-mão da Fabíola". Havia um verdadeiro desfile de visitas. Houve momentos em que havia mais de uma dezena de pessoas no apartamento da pobre. Havia flores de todas as cores, cheiros e tamanhos -- assim como os chocolates, que a Fá logicamente não conseguia comer. As visitas acabaram se alimentando umas às outras (e também aos acompanhantes, lógico). Houve também frutas, pães e sucos. Com todas aquelas iguarias, tinha horas que eu comia só mesmo pra não deixar estragar. Em excesso, mesmo as iguarias ficam sem sabor em determinados momentos.

Fica uma dica para todos os leitores que vão visitar pacientes em hospitais e maternidades: por favor, façam uma visita curta. Quinze minutos é o ideal. E não estranhem se a pessoa estiver completamente baqueada, sem vontade de conversar. Em geral nem é legal conversar muito porque a pessoa deglute ar e isso pode provocar dores na barriga. Só que a minha doce irmã não sabe fingir que está dormindo nem dar respostas monossilábicas. Houve momentos em que a expressão dela denunciava o cansaço, mas em outros a boa educação que meus pais lhe deram não denunciaram nada. E algumas visitas iam ficando por uma hora ou mais, puxando conversa... E minha tia Zezé ia dando indiretas (que não funcionavam)... Em geral acho que não é o momento, a não ser que o paciente reclame de tédio e insista para a visita ficar depois dos tais quinze minutos. Via de regra a pessoa está cansada, desconfortável, com dor, com o corpo e as emoções revirados e se sentindo feia. Houve momentos até, depois que saíam do quarto as pessoas da família, com quem ela tinha toda a liberdade e podia fechar a cara, em que ela dizia: "Graças a Deus! Enfim sós."

O primeiro banho da Fabíola foi inesquecível. Em momento nenhum naquele hospital ela gritou ou chorou de dor, mas eu via ela espremer os lábios e suar. A auxiliar de enfermagem a revirou mais do que devia. Ela deve ter visto estrelas, coitada. Outra dica pros acompanhantes de pessoas que fizeram uma TRAM (cirurgia reconstrutora da mama que usa gordura e músculo abdominais): só deixem os auxiliares de enfermagem passarem um paninho (mais nada) no corpo do paciente nas primeiras 24 horas após a cirurgia. Ou então nem deixem dar banho.

Dois dias após a cirurgia ela devia ficar sentada pela primeira vez por alguns minutos e depois dar uns passinhos. O mal-estar era gigantesco a cada vez que ela se sentava na cama. Não conseguiu andar, mas o médico deu uma bronca: se ela não desse uns passinhos mesmo morrendo de dor e mal-estar naquele dia ia ter que fazer fisioterapia pra recuperar a qualidade da respiração. Louco, não? Graças à ajuda e segurança de uma auxiliar de enfermagem fofíssima chamada Florence a Fabíola não só conseguiu dar sua meia dúzia de passos, como se sentiu melhor depois de se sentar na poltrona do quarto. É claro, ajudou o fato de que o Alim, ao vê-la curvada, apoiada no suporte de soro, de camisola florida, meia elástica, pantufa e drenos pendurados no suporte, exclamou: "Dona Odete!" Foi o primeiro nome que veio à cabeça dele que soaria familiar num asilo. Mas meu pai é que deu a versão definitiva do nome idoso: dona Nhanhã.

O telefone também foi um caso à parte. Não parava de tocar. O primeiro telefonema, via de regra, me acordava antes das 8 da manhã depois de uma noite pra lá de conturbada. Minha voz cavernosa não chegou a intimidar os interlocutores matutinos. Não havia um almoço, jantar ou lanche que também não fosse interrompido. Contei as mesmas histórias várias vezes. Mas gostei muito de ver o carinho e o cuidado das pessoas. Antes carinho demais que de menos.

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