sábado, 8 de março de 2008

Diagnósticos - parte I

Minha vida de "canceriana" começou em dezembro de 2007, com 36 aninhos razoavelmente bem aproveitados da minha vinda ao planeta. Trinta e seis, aliás, não é uma idade nem um pouco emblemática pra meio que nascer de novo, que é o processo de parto em que me encontro. Ainda bem. Já pensou que coisa mais clichê dizer que teve que começar a conviver com o câncer aos 35 ou 40? Nada de cincos ou números redondos. Nada de 18 ou 21. Acredito que as coisas acontecem quando têm que acontecer e há muita vida entre os cincos e as dezenas.

Sem mais nem menos o Alim, meu padrasto, foi fazer um exame de próstata de rotina, desses dos quais os amigos machos tiram sarro, e descobriu que estava com um câncer em estágio inicial. Minha mãe havia confundido a data da consulta para buscar o resultado do exame e não estava com ele no consultório. Ligou para o celular dele e ele atendeu com voz cavernosa: o aumento de PSA era mesmo um mau sinal de coisa ruim. Fechado como ele é, não posso imaginar muito bem como é que ficou a confusão emocional na cabeça e no coração dele. Sei que o danado, ao invés de voltar direto pra casa, resolveu "fazer umas coisas" antes de voltar ao trabalho para só depois ir pra casa. Enquanto resolvia esses problemas não atendeu o celular, para desespero da minha mãe. Por que será que certos homens teimam em reforçar o estereótipo de bicho isolado que, ao ter um problema, cuida dele sozinho pra não dar trabalho e acaba alijando do processo os pobres (especialmente as pobres) mortais que o cercam?

Sei que a primeira noite do Alim não foi boa. Faltavam 10 dias para o natal e ele "não queria estragar o momento" da família, por isso pediu à minha mãe que não comentasse seu câncer com ninguém. Sorte minha que tenho uma mãe desobediente -- muito desobediente -- desde a juventude. Ela contou pra mim e pra Fabíola. Senti que tudo se resolveria muito bem pra ele e não me preocupei. A Fá, intuitiva como sempre, disse que tinha certeza de que isso não seria nada e também não se abalou.

O abalo mesmo estava por vir, e viria uns 40 dias depois.

2 comentários:

Rodrigo disse...

As palavras sensatas foram, certamente, o Espírito Santo falando por mim. Nessas horas eu não sei o que dizer. Acho que estar presente é a melhor "palavra". Quem me dera poder retribuir o que vc fez por mim quando o problema foi com a minha mãe...

Tia Zezé disse...

Só quero dizer que me orgulho muito das sobrinhas que tenho. A Fabíola, aceitando com serenidade e coragem todos os momentos difíceis que tem vivido desde o diagnóstico de câncer, tem dado a todos uma valiosa lição de vida.
E a Cris , num gesto de profundo amor e desapego, superando um dos grandes tabus da vaidade feminina ao raspar os cabelos para dar força à irmã, tocou o meu coração profundamente com a beleza desse gesto. Nã só o meu, com certeza.